planeta hilda: February 2008

CRAZY QUILTING

CRAZY QUILTING, originally uploaded by planeta hilda.

Na Ilha do Pico, chamam-lhe "retalho louco" e pelo nome, penso que poderão ter sido os emigrantes a trazerem da América o crazy quilting. Parece apresentar exactamente as mesmas características mas não tenho dados nem certezas. Este tipo de trabalho é muito praticado nos Açores onde tenho visto "quilts" com padrões geométricos tipicamente americanos, mantas de retalhos como as que conhecemos no continente e peças com esta técnica do "retalho louco".

Na Ilha do Pico o retalho louco costuma ser feito em grupo, em associações, como o desta imagem, feito (e assinado!) por idosos da Criação Velha, ou em serões em família. Usam-se retalhos de tecidos cortados com formas irregulares e combinam-se as cores e os motivos. Depois unem-se com pontos de bordado, à mão. Este trabalho artesanal tem grande expressão na ilha, usado em peças utlitárias como colchas e sacos, e mais recentemente como painéis decorativos.

É um trabalho colectivo, feito manualmente com materiais reciclados. As criações são peças únicas com carácter utilitário e não comercial.
Por estas e por outras razões, é a isto que eu chamo Artesanato.

PICO ISLAND-ILHA DO PICO

ILHA DO PICO-MOINHO DA CRIAÇÂO VELHA, originally uploaded by planeta hilda.

Um dos projectos que mais me entusiasma vai acontecer já:
Na próxima sexta-feira vou voar, em direcção ao Pico, para coordenar o segundo "round" do workshop "Os bonecos da Ilha do Pico".

A primeira edição do curso aconteceu em Outubro de 2007, na Ilha do Pico. No programa, estava a iniciação à criação de bonecos de trapo. Os 22 formandos, 20 mulheres e 2 rapazes dos 18 aos 84 anos, criaram uma montanha deles, com um entusiasmo e uma habilidade admiráveis. O grupo era muito interessante pela sua heterogeneidade, constituído por pessoas de idades, formação e competências diferentes. Independentemente da motivação que os levou a estar ali, tinham em comum o facto de viverem todos na Ilha do Pico. Em 10 sessões de 2 horas diárias, à noite, depois do trabalho, cada formando criou pelo menos 3 bonecos que correspondiam a exercícios cujo grau de complexidade ia aumentando.

As mulheres do Pico são artesãs admiráveis, quase todas são exímias costureiras e bordadeiras, fazem renda, retalho louco e frioleiras... Os/as que diziam que nunca tinham pegado numa agulha, aprenderam a coser, a casear e a bordar ali mesmo, com pontos certinhos e seguros, como se tudo lhes fosse familiar, sem receios, partilhando saberes e discutindo pormenores como professionais. Com uma abertura e curiosidade fora do comum, enquanto conversavam e riam, todos desenharam, cortaram, encheram e vestiram os seus bonecos, ao gosto e ao estilo de cada um. Levava comigo um programa, acabei por redesenhar o curso dia a dia, conforme o que ia acontecendo na noite anterior. Não me vou esquecer nunca do muito que aprendi com elas/eles.

Chamei ao workshop "Os bonecos da Ilha do Pico" porque o objectivo era ver reflectida nos bonecos a especificidade da vida naquele lugar. Assim foi, estimulou-se a procura de referências e memórias, de estilo e de gosto e nasceram bonecos únicos, os deles. Foram expostos, vistos e elogiados. Valia a pena desenvolver o objectivo do curso e maximizar o potencial dos formandos. Nasceu assim a ideia de completar a formação.

Na segunda parte do curso, onde já estão inscritos "repetentes" e "novos", vamos continuar a aprofundar a procura de linguagem própria e a construção de moldes e técnicas mais complexas.

Imagens em arquivo, do curso e da Ilha, tenho umas centenas. Falta-me o poder de síntese para as seleccionar e foi por isso que ainda não as publiquei, mas fica a tarefa agendada, para quando voltar.

Quanto ao Pico, já me tinham avisado e aconteceu, apaixonei-me pela ilha e pelas pessoas e o que eu quero mesmo é estar ali, nas Ilhas da Felicidade, e dividir o meu tempo entre o Pico e as Flores...

A segunda edição do workshop "os Bonecos da Ilha do Pico" começa a 25 de Fevereiro, na Casa do Povo da Criação Velha, das 19 às 21 horas.